POR:
Roberto C. P. Júnior
O tempo... Como definir essa grandeza? A resposta não é óbvia. Requer uma análise mais aprofundada, coisa que hoje pouca gente se dispõe a fazer... por falta de tempo. Tempo consumido quase que inteiramente na luta pela vida, na batalha diária que se estende durante anos, décadas, até a gloriosa apoteose: a autocondecoração com a medalha de "vencedor", comenda que outorga ao agraciado o direito de desfrutar do ócio caseiro com a consciência do dever cumprido. Abrigado nessa última trincheira ele poderá então, finalmente, aproveitar o tempo.Verdade é que durante o desenrolar dessa peleja cotidiana, dessa insana lufa-lufa, conseguimos reservar algumas horas semanais para o lazer e o descanso, mas não para meditar nas questões cruciais da vida. Para essas coisas não dispomos de tempo algum, não podemos absolutamente perder tempo com isso."Assunto de filósofos!", dirão muitos num estalo e com o passo apertado, sorriso nos lábios e olhos no relógio. E assim vamos todos nós, os não filósofos empedernidos, a correr pela vida afora, sem vivê-la, sem vivenciá-la realmente, sem extrair dela os ensinamentos e reconhecimentos que nos possibilitariam crescer como espíritos humanos que somos.Comemos, bebemos e dormimos, exatamente como um rebanho bovino. Talvez um pouco mais, pois também estudamos compulsoriamente, trabalhamos mecanicamente e nos divertimos sofregamente. Assim como é de se esperar de um rebanho humano. Mas será que a vida se esgota nisso? Em despender algumas décadas nessas atividades gregárias e só? E o espírito humano? Que faz ele nesse espaço de tempo tomado integralmente pelas necessidades corpóreas tão prioritárias?Antes de responder a essas perguntas vamos tentar compreender a natureza propriamente do tempo. De acordo com a teoria da relatividade de Einstein, espaço e tempo estão interligados. Em velocidades próximas à da luz, a massa de um corpo aumenta de forma perceptível, o espaço se contrai e o tempo passa mais devagar.O tempo passa mais devagar? Como é possível isso? Pode o ritmo do tempo alterar sua pulsação sob determinadas circunstâncias? O tempo, aliás, pulsa realmente?Na infância tínhamos a nítida impressão de que o tempo, de fato, passava mais devagar. Decorria uma eternidade até o período de férias chegar; o Natal, sempre ansiosamente aguardado, era um evento que se repetia mui raramente; o dia do aniversário, então, parecia mais um golpe de sorte quando finalmente despontava.À medida que crescemos a história se inverte. Parece que o tempo se acelera. Mal repetimos nossas imutáveis resoluções definitivas de ano novo e as semanas e meses já iniciam sua desabalada carreira. Quando nos damos conta já estamos prestes a ultrapassar o primeiro semestre, para logo em seguida nos surpreendermos com os primeiros acordes natalinos. E apesar dessa mudança de percepção, sabemos que as intermináveis horas da infância contêm os mesmos fugazes 60 minutos da fase adulta. Como se explica isso?Explica-se pela vivência. É a vivência do ser humano que muda a partir de certa idade, e não o tempo. O tempo não muda. Os movimentos dos ponteiros do relógio apenas registram numericamente a nossa passagem dentro do tempo. O tempo não passa, nós é que passamos dentro dele.Vamos tomar um exemplo. O registro da passagem de uma pessoa pela Terra pode ser medido em um bem determinado número de anos. Digamos, setenta. Mas isso não significa que esta pessoa tenha vivido tanto quanto uma outra com o mesmo registro de anos. O registro é igual, mas a vivência é diferente. E o que conta realmente, como verdadeira riqueza, como único lucro e substrato da existência terrena, é a vivência. Assim, com base no que foi vivenciado a primeira pessoa pode ter vivido de fato mais de cem anos, enquanto que a segunda, talvez, não mais de 30 anos.Quanto maior mobilidade apresentar um espírito humano, quanto mais vigilante e atuante for, tanto mais ele vivenciará num mesmo espaço de registro de tempo. Exteriormente isso se mostra como uma aparente dilatação temporal, isto é, para determinada pessoa o tempo parece "esticar", de forma a permitir que ela faça tudo a que se propusera. Interiormente, porém, dá-se o contrário. Para aquela mesma pessoa o tempo parece "voar", de modo que mal consegue utilizá-lo como gostaria na consecução de seus objetivos. Contudo, não foi o tempo que voou com tamanha rapidez, e sim a própria pessoa é que atuou diligentemente dentro dele. Foi ela que "voou" dentro do tempo, e por isso, somente por isso, ele pareceu ter passado tão rápido. Conta-se que no fim da vida Leonardo da Vinci se queixou de não ter tido tempo suficiente para fazer tudo quanto queria...Podemos colher um sem-número de outros exemplos dessa relatividade na percepção do tempo. Basta que estejamos profundamente compenetrados em alguma atividade importante, ou mesmo absorvidos pelo enredo de um bom filme, e o tempo "voa" novamente. Por outro lado, enquanto estamos presos à cadeira do dentista parece que descobrimos ali o conceito de eternidade.O tempo está, de fato, indissoluvelmente interligado ao espaço. Tempo-espaço é o binômio concedido a cada criatura para o seu desenvolvimento, esteja ela ainda na Terra ou em qualquer outra parte da Criação. Contudo, o tempo não se altera. Ele permanece parado. O que muda é a percepção que temos dele, segundo nossa própria mobilidade espiritual e terrena.Mesmo aqui na Terra notamos, então, uma mudança na velocidade de assimilação dos fatos a partir da adolescência. A partir daí o tempo parece correr mais rápido, porque é nessa época que o espírito passa a atuar. Quando o corpo terreno atinge um determinado estado de maturação, o espírito dentro dele passa a se fazer valer plenamente, e então as vivências se intensificam.O simples início natural e automático da atuação espiritual já é, pois, suficiente para alterar a percepção do tempo, mesmo que em escala reduzida. Contudo, na quase totalidade das pessoas o espírito não atua como deveria a partir dessa época. Ao invés de se manter no comando da situação, conforme seria de se esperar e como é, aliás, sua função, o espírito se curva às imposições do intelecto, excessivamente estimulado e unilateralmente desenvolvido já no início da segunda década de vida. A vontade espiritual não consegue se sobrepor à intelectiva, e assim o espírito, que é tudo no ser humano, que é o próprio ser humano, torna-se escravo do seu raciocínio, um mero instrumento dado a ele para sua utilização durante a vida terrena.Por isso, toda essa correria da vida moderna não constitui nenhuma vivência para o espírito. Toda essa aparente riqueza de experiências cotidianas é, tão-só, fruto da atividade cerebral, que naturalmente só pode encontrar valor em coisas materiais, visíveis e palpáveis, inteiramente consentâneas com o conceito terreno de espaço e tempo. O que se acha além do espaço-tempo terreno o cérebro humano, pela sua própria constituição, não é capaz de compreender, enquanto que o espírito, único capacitado para isso, encontra-se por demais fraco e sonolento para assumir esta tarefa.E assim o ser humano atravessa a vida, celeremente, sem se preocupar em saber quem ele é, sem saber de onde vem e qual a finalidade da sua existência. Pior: passa pela vida sem mesmo procurar saber como deve proceder para poder continuar existindo na Criação. Nada disso tem importância para ele, o espírito adormecido no esquife intelectual.Se o espírito do ser humano atuasse como deveria, suas vivências seriam incomensuravelmente mais ricas. Transformar-se-iam imediatamente em reconhecimentos duradouros, indeléveis, e com isto em evolução. E a própria ciência também não precisaria mais esforçar-se paroxisticamente em esticar a vida em alguns poucos anos, pois poderíamos facilmente vivenciar séculos durante nossa curta passagem pela Terra.
Roberto C. P. Júnior é espiritualista, mestre em engenharia e autor do livro on-line "Vivemos os Últimos Anos do Juízo Final" (http://www.library.com.br/Filosofia/index.htm)
Roberto C. P. Júnior
O tempo... Como definir essa grandeza? A resposta não é óbvia. Requer uma análise mais aprofundada, coisa que hoje pouca gente se dispõe a fazer... por falta de tempo. Tempo consumido quase que inteiramente na luta pela vida, na batalha diária que se estende durante anos, décadas, até a gloriosa apoteose: a autocondecoração com a medalha de "vencedor", comenda que outorga ao agraciado o direito de desfrutar do ócio caseiro com a consciência do dever cumprido. Abrigado nessa última trincheira ele poderá então, finalmente, aproveitar o tempo.Verdade é que durante o desenrolar dessa peleja cotidiana, dessa insana lufa-lufa, conseguimos reservar algumas horas semanais para o lazer e o descanso, mas não para meditar nas questões cruciais da vida. Para essas coisas não dispomos de tempo algum, não podemos absolutamente perder tempo com isso."Assunto de filósofos!", dirão muitos num estalo e com o passo apertado, sorriso nos lábios e olhos no relógio. E assim vamos todos nós, os não filósofos empedernidos, a correr pela vida afora, sem vivê-la, sem vivenciá-la realmente, sem extrair dela os ensinamentos e reconhecimentos que nos possibilitariam crescer como espíritos humanos que somos.Comemos, bebemos e dormimos, exatamente como um rebanho bovino. Talvez um pouco mais, pois também estudamos compulsoriamente, trabalhamos mecanicamente e nos divertimos sofregamente. Assim como é de se esperar de um rebanho humano. Mas será que a vida se esgota nisso? Em despender algumas décadas nessas atividades gregárias e só? E o espírito humano? Que faz ele nesse espaço de tempo tomado integralmente pelas necessidades corpóreas tão prioritárias?Antes de responder a essas perguntas vamos tentar compreender a natureza propriamente do tempo. De acordo com a teoria da relatividade de Einstein, espaço e tempo estão interligados. Em velocidades próximas à da luz, a massa de um corpo aumenta de forma perceptível, o espaço se contrai e o tempo passa mais devagar.O tempo passa mais devagar? Como é possível isso? Pode o ritmo do tempo alterar sua pulsação sob determinadas circunstâncias? O tempo, aliás, pulsa realmente?Na infância tínhamos a nítida impressão de que o tempo, de fato, passava mais devagar. Decorria uma eternidade até o período de férias chegar; o Natal, sempre ansiosamente aguardado, era um evento que se repetia mui raramente; o dia do aniversário, então, parecia mais um golpe de sorte quando finalmente despontava.À medida que crescemos a história se inverte. Parece que o tempo se acelera. Mal repetimos nossas imutáveis resoluções definitivas de ano novo e as semanas e meses já iniciam sua desabalada carreira. Quando nos damos conta já estamos prestes a ultrapassar o primeiro semestre, para logo em seguida nos surpreendermos com os primeiros acordes natalinos. E apesar dessa mudança de percepção, sabemos que as intermináveis horas da infância contêm os mesmos fugazes 60 minutos da fase adulta. Como se explica isso?Explica-se pela vivência. É a vivência do ser humano que muda a partir de certa idade, e não o tempo. O tempo não muda. Os movimentos dos ponteiros do relógio apenas registram numericamente a nossa passagem dentro do tempo. O tempo não passa, nós é que passamos dentro dele.Vamos tomar um exemplo. O registro da passagem de uma pessoa pela Terra pode ser medido em um bem determinado número de anos. Digamos, setenta. Mas isso não significa que esta pessoa tenha vivido tanto quanto uma outra com o mesmo registro de anos. O registro é igual, mas a vivência é diferente. E o que conta realmente, como verdadeira riqueza, como único lucro e substrato da existência terrena, é a vivência. Assim, com base no que foi vivenciado a primeira pessoa pode ter vivido de fato mais de cem anos, enquanto que a segunda, talvez, não mais de 30 anos.Quanto maior mobilidade apresentar um espírito humano, quanto mais vigilante e atuante for, tanto mais ele vivenciará num mesmo espaço de registro de tempo. Exteriormente isso se mostra como uma aparente dilatação temporal, isto é, para determinada pessoa o tempo parece "esticar", de forma a permitir que ela faça tudo a que se propusera. Interiormente, porém, dá-se o contrário. Para aquela mesma pessoa o tempo parece "voar", de modo que mal consegue utilizá-lo como gostaria na consecução de seus objetivos. Contudo, não foi o tempo que voou com tamanha rapidez, e sim a própria pessoa é que atuou diligentemente dentro dele. Foi ela que "voou" dentro do tempo, e por isso, somente por isso, ele pareceu ter passado tão rápido. Conta-se que no fim da vida Leonardo da Vinci se queixou de não ter tido tempo suficiente para fazer tudo quanto queria...Podemos colher um sem-número de outros exemplos dessa relatividade na percepção do tempo. Basta que estejamos profundamente compenetrados em alguma atividade importante, ou mesmo absorvidos pelo enredo de um bom filme, e o tempo "voa" novamente. Por outro lado, enquanto estamos presos à cadeira do dentista parece que descobrimos ali o conceito de eternidade.O tempo está, de fato, indissoluvelmente interligado ao espaço. Tempo-espaço é o binômio concedido a cada criatura para o seu desenvolvimento, esteja ela ainda na Terra ou em qualquer outra parte da Criação. Contudo, o tempo não se altera. Ele permanece parado. O que muda é a percepção que temos dele, segundo nossa própria mobilidade espiritual e terrena.Mesmo aqui na Terra notamos, então, uma mudança na velocidade de assimilação dos fatos a partir da adolescência. A partir daí o tempo parece correr mais rápido, porque é nessa época que o espírito passa a atuar. Quando o corpo terreno atinge um determinado estado de maturação, o espírito dentro dele passa a se fazer valer plenamente, e então as vivências se intensificam.O simples início natural e automático da atuação espiritual já é, pois, suficiente para alterar a percepção do tempo, mesmo que em escala reduzida. Contudo, na quase totalidade das pessoas o espírito não atua como deveria a partir dessa época. Ao invés de se manter no comando da situação, conforme seria de se esperar e como é, aliás, sua função, o espírito se curva às imposições do intelecto, excessivamente estimulado e unilateralmente desenvolvido já no início da segunda década de vida. A vontade espiritual não consegue se sobrepor à intelectiva, e assim o espírito, que é tudo no ser humano, que é o próprio ser humano, torna-se escravo do seu raciocínio, um mero instrumento dado a ele para sua utilização durante a vida terrena.Por isso, toda essa correria da vida moderna não constitui nenhuma vivência para o espírito. Toda essa aparente riqueza de experiências cotidianas é, tão-só, fruto da atividade cerebral, que naturalmente só pode encontrar valor em coisas materiais, visíveis e palpáveis, inteiramente consentâneas com o conceito terreno de espaço e tempo. O que se acha além do espaço-tempo terreno o cérebro humano, pela sua própria constituição, não é capaz de compreender, enquanto que o espírito, único capacitado para isso, encontra-se por demais fraco e sonolento para assumir esta tarefa.E assim o ser humano atravessa a vida, celeremente, sem se preocupar em saber quem ele é, sem saber de onde vem e qual a finalidade da sua existência. Pior: passa pela vida sem mesmo procurar saber como deve proceder para poder continuar existindo na Criação. Nada disso tem importância para ele, o espírito adormecido no esquife intelectual.Se o espírito do ser humano atuasse como deveria, suas vivências seriam incomensuravelmente mais ricas. Transformar-se-iam imediatamente em reconhecimentos duradouros, indeléveis, e com isto em evolução. E a própria ciência também não precisaria mais esforçar-se paroxisticamente em esticar a vida em alguns poucos anos, pois poderíamos facilmente vivenciar séculos durante nossa curta passagem pela Terra.
Roberto C. P. Júnior é espiritualista, mestre em engenharia e autor do livro on-line "Vivemos os Últimos Anos do Juízo Final" (http://www.library.com.br/Filosofia/index.htm)
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